Uma primeira estratégia para reduzir a Poluição Luminosa na Macaronésia é apenas um dos resultados obtidos da implementação do projeto Interreg LuMinAves (2017-2020) nos Açores. Este projeto permitiu, em sinergia com outras iniciativas, atualizar o conhecimento sobre as aves marinhas nos Açores e sensibilizar ainda mais a população sobre este problema que ameaça não apenas os cagarros, mas também outras espécies similares que ocorrem nos Açores: estapagados, frulhos, paínhos e almas-negras.
O projeto LuMinAves (2017-2020) (Interreg), desenvolvido nos Açores pela Direção Regional dos Assuntos do Mar (DRAM), o Fundo Regional da Ciência e Tecnologia (FRCT) e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), teve como objetivo reduzir o impacto da poluição luminosa na população de aves marinhas da Macaronésia, através de três ações-chave: a atualização do conhecimento sobre as populações de aves marinhas; a divulgação e melhoria das campanhas de salvamento de juvenis e mitigação da poluição luminosa, através da identificação das zonas críticas; e a definição de uma estratégia comum para a Macaronésia para reduzir este problema no futuro.
A informação disponível sobre o estado de conservação das aves marinhas nos Açores estava bastante desatualizada, sendo que as estimativas de população datavam de 1999. O projeto Interreg LuMinAves, em sinergia com outros projetos, como o Mistic Seas II e o pós-projeto LIFE Ilhas Santuário para as Aves Marinhas, permitiu atualizar esta informação, identificar as principais ameaças a estas espécies e ajudar a DRAM no reporte sobre o estado de conservação destas aves (no âmbito da Diretiva Aves) e doseu Estado Ambiental, no âmbito da Diretiva-Quadro Estratégia Marinha.
Os dados obtidos através da monitorização de várias colónias de aves marinhas pela SPEA e pela DRAM/Serviços de Ambiente e Parques Naturais, identificam várias ameaças a estas aves, onde a predação de crias e ovos por espécies exóticas invasoras, como ratos e gatos, continua sendo a principal ameaça, associada à perturbação humana nos locais de nidificação e às mortes associadas ao efeito das luzes artificiais nestas aves.
A colaboração na campanha SOS Cagarro, campanha coordenada, na Região Autónoma dos Açores, pela DRAM, com o apoio dos Serviços de Ambiente/Parques Naturais de Ilha, permitiu salvar e registar 17 071 cagarros em todo o arquipélago entre 2017 e 2019, tendo sido dinamizadas brigadas científicas com voluntários, como já é habitual durante a campanha. Além disso, e graças aos trabalhos efetuados pela SPEA, foram salvas cerca de 2424 aves marinhas (entre cagarros, estapagados e frulhos), nas ilhas do Corvo e de São Miguel. Foram realizadas 27 sessões de divulgação com 992 participantes dos quais, no mínimo, 266 de gênero feminino, e 23 atividades de educação ambiental com mais de 396 alunos dos quais, no mínimo, 105 de gênero feminino.
Através da criação de mapas de quedas de cagarros, o FRCT, em conjunto com a DRAM, desenvolveu mapas de risco, que permitem identificar os locais mais críticos, quer pela sua proximidade a colónias, quer pela elevada poluição luminosa. Estes serão os locais prioritários para a implementação de ações de correção da iluminação exterior que permitam reduzir o impacto da luz artificial nas aves marinhas.
Os parceiros do projeto criaram igualmente um Manual de Boas Práticas de Iluminação, que poderá servir de base para a alteração da iluminação pública e para o desenho de projetos com menor impacto nas aves marinhas e definiu uma Estratégia Macaronésica para Reduzir a Poluição Luminosa que identifica as principais ações necessárias ao nível do arquipélago, para o tornar mais seguro para estas aves. Estas ações incluem a continuação das campanhas de salvamento de aves marinhas, alargando-as para outras espécies, e a implementação de medidas concretas para reduzir a poluição luminosa Sem esquecer a continuação dos esforços para sensibilizar a população e os decisores sobre este problema.
Foram ainda realizadas ações piloto em vários locais, com destaque para a ilha do Corvo, onde em parceria com a Câmara Municipal, foi possível realizar apagões de luzes nos períodos críticos de saída de juvenis de cagarro dos ninhos e escolher os melhores sistemas disponíveis para reduzir a poluição luminosa da Vila do Corvo com a colaboração da Electricidade dos Açores – EDA s.a.
Durante a campanha SOS Cagarro 2020, foi possível ainda contar com a participação da Câmara Municipal da Madalena, na ilha do Pico e com a Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, que efetuaram a redução da iluminação na via pública em locais identificados como pontos críticos de quedas de cagarros . Além disso, todos os anos, a DRAM conta com a colaboração de cerca de 40 entidades públicas e privadas, como Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Portos dos Açores, EDA, Aeroportos e aeródromos, entre outras, que efetuam a redução da iluminação em locais identificados como muito iluminados e que poderão ser potencialmente locais de muitas quedas.
O desafio que agora se coloca é a tomada de medidasefetivas para reduzir a mortalidade de aves marinhas que é causada pela poluição luminosa, através da promoção da implementação de boas práticas na iluminação exterior, tanto dos municípios como dos estabelecimentos privados.
Neste sentido, está a ser desenvolvido o projeto Interreg EELabs “Laboratórios de Eficiência Energética”, executado pela SPEA nos Açores, que pretende promover a criação de legislação própria para a redução da poluição luminosa ao nível regional e municipal e sobretudo, promover uma melhor iluminação exterior para a conservação da biodiversidade, do céu noturno e da saúde das pessoas.